Uma câmera na mão e um breve conhecimento na cabeça. Ou quase isso...

Parafraseando Glauber Rocha:"Uma câmera na mão e um breve conhecimento na cabeça". Ou quase isso.../Desde Fevereiro de 2015.

31 julho 2015

CHAPADA DO NORTE MG SOFRE COM A ESCASSEZ DE CHUVAS E A SECA NO VALE DO JEQUITINHONHA

O município de Chapada do Norte MG no Vale do Jequitinhonha sofre há muito tempo com a escassez de chuvas durante o ano que contribuiu com a enorme diminuição do nível de água de rios e córregos. Muitos córregos do município secaram completamente fazendo que muitas famílias migrassem da zona rural para a zona urbana. Nasceram novos bairros (Céu Azul, São Geraldo...) e com isso a população aumentou muito nos últimos anos. O Rio Capivarí que abastece a cidade, neste período assistiu seu nível de água abaixar drasticamente. Os moradores de Chapada do Norte possuem a lembrança de uma época ainda nos recentes anos 80 e 90 onde o Capivarí possuía um grande volume de água, uma boa quantidade de peixes, muito verde, e de momentos de lazer durante toda a semana, em que a diversão era ir ao rio tomar banho, mergulhar, pescar e fazer farra na beira do rio levando comida e bebida. As lavadeiras de roupa ao lavar a vasilha do almoço viam uma grande quantidade de peixes emergirem atrás dos farelos de farinha e bagos de arroz na água. Era um espetáculo da natureza local. Havia um mito na época que aprendíamos a nadar ao engolir um peixinho vivo. E muitas crianças o fizeram. Era fácil pegar um peixinho no rio. O local conhecido como “Barragem” era um dos principais locais de encontro das pessoas. Lá era possível brincar de competição de natação indo e voltando entre os seus extremos; pular do Pau D’Óleo (uma árvore ás margens do rio) na água e ver quem mergulhava mais fundo e conseguia trazer areia do fundo, mas à medida que íamos afundando a água ia ficando mais gelada e mais escura e com isso era comum retornamos a superfície por precaução ou medo. A Mãe Vitória era um local também no espaço denominado “Barragem” muito atrativo por possuir areia na margem do rio, o que dava a sensação de uma praia, usada tanto para a prática esportiva como a prática de entretenimento como churrasco e piquenique. Esses eram espaços usados mais freqüentemente pelos moradores da região da cidade conhecida como “Rua de Cima”, mais ou menos entre as Igrejas do Senhor Bom Jesus, Igreja do Rosário e o antigo campo de terra (hoje Estádio Municipal Durval Queiroga Pinto). Outro ponto de encontro muito freqüentado neste período era o “Cachoeirão”. Nele era possível ir escorregando numa espécie de tobogã natural de uma ponta na outra na cachoeira. Próximo dali o “Bambú” era outro espaço de muita movimentação pelo poço onde se tomava banho e pela praia ao lado que servia para a prática do futebol de areia.  Próximo da ponte localizada na Rodovia BR 367 que liga os municípios de Chapada do Norte a Berilo ficava o poço denominado Poço de Xilô (segundo fontes do historiador Magno Wagner Ribeiro, conhecido como Chiquito), mas popularmente chamado de Poço de Maria de Américo. Era um poço perigoso devido a sua profundidade. E era recomendado que somente os mais experientes nadadores fizessem uso deste espaço. Ainda havia o Biquinha, onde se tomava banho tranquilamente e jogava-se peteca, além de outros tipos de farras saudáveis. Mas hoje isso tudo é apenas lembrança. O Rio Capivarí praticamente secou. Em poucos pontos é possível encontrar água corrente. Hoje vemos muita seca e pedregulhos onde outrora corria muita água. Apenas em períodos raros de chuvas do ano é possível ver uma quantidade boa de água no rio. Mas dura pouco tempo. Geralmente com água suja da mistura com lama. Quando se inicia o ano em Chapada do Norte MG a população começa a indagar-se sobre quanto tempo o rio terá forças para “correr” e o que será do abastecimento da cidade.  O ano de 2013 foi o pior dos últimos anos na cidade com a grande crise de falta d’água nas torneiras. A população passou semanas comprando água dos carros pipas e comprando caixas d’águas e tambores plásticos para armazenamento. Foi um caos. Houve até a incerteza se o município teria estrutura para realização da parte social da tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Mas os problemas foram amenizados e a festa aconteceu como de costume. A diminuição do período de chuvas é o grande causador da seca que assola o município de Chapada do Norte. Mas outros fatores também possuem sua parcela de culpa: a plantação de eucaliptos sempre esteve nas rodas de debates como vilão quando o assunto era a seca dos rios; a ausência de um planejamento no passado visando preparar-se para este problema também é pauta das discussões e apontado como culpado. Uma barragem foi construída no Rio Capivarí e parecia que seria a solução para os problemas da seca e conseqüentemente para o abastecimento de água na cidade durante muitos anos. Mas o projeto fracassou e não conseguiu atingir seu objetivo. Tornando-se um enorme depósito de lama. Moradores locais até realizaram uma simbólica partida de futebol como forma de protesto. Algumas estradas foram criadas para facilitar a acesso á regiões distantes da sede, mas ao mesmo tempo essas mesmas estradas contribuíram com o assoreamento do rio devido a grande quantidade de poeira que em períodos chuvosos reverte-se em grandes quantidades de lama e vão parar dentro do rio. O médico e teatrólogo Dr. Joaquim Souto Filho quando chegou em Chapada do Norte MG em Janeiro de 1989 montou um grupo teatral com crianças a adolescente. E nos ensaios e reuniões com esse grupo, como também em algumas apresentações, ele sempre alertava que o município um dia enfrentaria uma forte crise de água. Mas naquela época era difícil imaginar que aquela fartura um dia acabasse. E hoje praticamente acabou. Galão de água se tornou indispensável nas compras mensais das famílias chapadense na hora de fazer as compras do mês. A compra de caixas para armazenamento de água virou rotina nos lares chapadenses. A Copanor, empresa responsável pelo saneamento e distribuição da água na cidade encontra vários obstáculos para cumprir sua meta: levar água aos lares chapadenses, mas infelizmente é comum alguns bairros da cidade ficarem sem água na torneira por alguns dias, até que os problemas sejam solucionados. E a população chapadense adquiriu novos hábitos de reaproveitamento de água, como a água da máquina de lavar, dos tanques de roupas...que acabam recebendo novos destinos. E assim cenas comuns do cotidiano como a senhora lavando calçada com a mangueira ligada ou o proprietário de veículos como carros e motos os lavando com muita água vão se tornando raras no dia a dia. Sinais da conscientização necessária para viver nestes novos e difíceis tempos de racionamento de água. Mas esse não é um problema exclusivo do Rio Capivarí. O Rio Araçuaí que antes encantava pela abundância de água, possui atualmente um volume de água muito menor que outrora. O Rio Setúbal também diminuiu seu nível de água, mas ainda possui uma boa quantidade de água. E a cidade vai sofrendo com a insuficiente quantidade de água para abastecer a população. As escolas municipais e estaduais tem intensificado os trabalhos de conscientização com os seus alunos. Moradores de cidades vizinhas como Minas Novas, Berilo, Virgem da Lapa, entre outras também relatam em conversas em redes sociais as dificuldades com a falta de chuvas e conseqüentemente a falta de água. Em 2015 apegados na fé, católicos da Paróquia Santa Cruz e o então pároco do municipio padre Victor Hugo do Nascimento realizaram uma penitência durante a Semana Santa: saíram ao Meio Dia da Igreja da Matriz vestidos de preto e com baldes com água na cabeça e subiram rezando sob o forte calor até o Cruzeiro situado na entrada da cidade (pra quem vem de Minas Novas) rogando pela benção da chuva. E choveu em pouco tempo. Muitas pastorais colocam em suas orações pedidos que o município seja agraciado com a água que vem do céu. E essa penitência se repetiu nos anos seguintes na Semana Santa.
Religiosos de outras religiões também dedicam em suas orações pedidos ao grande pai celestial pela chuva. Poços artesianos foram feitos para tentar amenizar temporariamente os problemas. A escassez de água em Chapada do Norte MG além causar enormes transtornos nos lares chapadenses também provoca caos no funcionamento das escolas, hospitais, consultórios odontológicos e outras repartições que são obrigadas a reduzir o período de atendimento. A cidade de Chapada do Norte MG revive constantemente o caos causados pela falta de abastecimento de água.  Entra ano e sai ano e a população do Vale do Jequitinhonha vai sofrendo e convivendo com a escassez de chuvas, a falta de água, com a falta de soluções para este grande problema ambiental e principalmente: sem saber o que será do futuro.
Texto e Fotos: Maurício Costa

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Fotos: Maurício Costa